Ei, mas qual é o escândalo do que o José Saramago disse sobre a bíblia? Já não pode dar a sua opinião só porque fala das pessoas católicas? essas mesmas pessoas não tem também um opinião sobre quem é Ateu ou tem outra religião?
Eu sou suspeita de falar, mas quando o Sr. Papa vem dar a sua opinião para a televisão, chegando mesmo a ofender quem não acredita no mesmo que ele, ninguém diz nada. O que é que as suas palavras tem a mais que as do Saramago? são opiniões diferentes de quem acredita em coisas diferentes.
Chega desse fanatismo com a religião, sim, acreditem em quem quiserem, toda agente é livre de acreditar no que quiser e neste caso que há uma força superior, mas não venham criticar quem não acredita e a sua opinião.
Respeitem a opinião dos outros se faz favor!
De Zera a 22 de Outubro de 2009 às 20:40
Epa mas espera lá. Esse senhor, sendo um premiado nobel que é, devia se comportar como isso mesmo. Um exemplo. E não deixar o seu mau feitio chegar a pontos que não devia sequer se aproximar. Já que se acha tão superior e inteligente, use isso em prol da sua auto-educação. É certo que é livre de escolher se acredita ou não n´Ele, mas não acreditando não´lhe dá o direito de chamar "Livro de maus costumes" á Biblia quando os seus próprios livros não são exemplo para ninguém. Se eu já não gostava deste senhor prepotente, então agora é que quase o detesto. Portugal não perdia nada se ele deixasse de ser português. Eu assino por baixo.
Bjs
De maragarida fernandes a 23 de Outubro de 2009 às 11:34
Olá Zera
Não nos conhecemos mas sei (ou suponho)que és amigo da minha filha e por isso respeito-te e tendo, mesmo sem te conhecer, a gostar de ti. Costuma-se dizer "quem meus filhos beija minha boca adoça". A ti, à Inês e todos os frequentadores deste blog peço desculpa por a "cota" vir aqui imiscuir-se num espaço que é por natureza vosso: da Inês e seus amigos. Mas não resisti. Conheces a Bíblia ? Se conheces deves reconhecer alguma razão nas palavras de Saramago. Bem sei que ele foi redutor e sublinhou apenas alguns textos para além de que a Bíblia (para mim que não sou crente, apenas um livro histórico) se deve ler no contexto na sua época e nos valores vigentes. Mas de facto o Deus lá caracterizado é muito como o Saramago o define. Ou será um acto de amor Deus exigir o sacrifício de um filho? E isso está lá. Aliás quer queiramos quer não a Igreja católica pouco tem hoje a ver com a mensagem de Cristo. Quantas vezes denunciou a Igreja católica as guerras sanguinárias que se passam neste mundo, quantas vezes denunciou o Papa, publicamente, o tráfico de seres humanos nomeadamente de crianças e mulheres ou a fome, ou a não disponibilização, pelos poderosos da industria farmacêutica , de remédios e vacinas nos países pobres? Isto não é crueldade? Quanto a Saramago estou de acordo quanto à sua arrogância e dá-me volta ao estômago a campanha publicitária muito bem montada por via da polémica (quem hoje não tem vontade de comprar e ler o livro? Até os seus eventuais detractores ...) mas o senhor tem direito à sua opinião e quem não está de acordo, com igual direito, não pode atacá-lo com base na intocabilidade da Igreja. Demonstrem que ele não tem razão e especialmente os católicos, tentem mudar a Igreja e os seus princípios de intervenção social. Que grande contributo dariam para a construção de um mundo mais justo. Talvez esta "pedrado no charco" de Saramago, venha a ser algo mais do que uma obra de literatura e assim poderemos desculpar-lhe a sua imensa arrogância.
O mundo é vosso, tarnsformem-no que bem precisa.
Fiquem bem
De JoanaV a 24 de Outubro de 2009 às 11:49
Para mim é tão simples quanto isto:
A Biblia é claramente um livro de maus costumes desde os tempos em que, em seu nome, se cometiam crimes como perseguições e queimar pessoas vivas na fogueira. Hoje em dia já não se cometem mas é um livro que leva associada uma fé que aliena cabeças e espíritos, e que, durante toda a história das Humanidade foi responsável pelas guerras mais desumanas e horrendas. A prova de que aliena é de que, em nome dela, se passam por cima de direitos tão importantes como a liberdade de expressão e o direito a ter uma opinião diferente à da Igreja Católica.
Somos todos muito liberais até expressarmos uma opinião contrária às nossas crenças... aí é que a natureza das pessoas e das coisas se revela.
A Biblia é um livro de maus costumes, a Igreja Católica é um negócio, um meio de alienação de milhões por todo o mundo. E o Saramago é um senhor! E enquanto houver mais como ele por cá ninguém passará por cima do direito de expressar UMA OPINIÃO.
Desculpem lá também a MINHA OPINIÃO... espero que por isso não venham agora deputados do PSD pedir que me tirem a cidadania portuguesa... :x
De JoanaV a 24 de Outubro de 2009 às 11:52
Claro que quando disse:
Somos todos muito liberais até expressarmos uma opinião contrária às nossas crenças... aí é que a natureza das pessoas e das coisas se revela.
Queria dizer:
Somos todos muito liberais até expressarem uma opinião contrária às nossas crenças... aí é que a natureza das pessoas e das coisas se revela.
De P. a 26 de Outubro de 2009 às 23:18
Pensei escrever um comentário sobre este assunto, mas faltou-me tempo e paciência. Assim, transcrevo partes de dois textos publicados no Expresso que, no essencial, resumem aquilo que penso. O primeiro é do Miguel Sousa Tavares e o segundo (que publico no comentário seguinte) do Daniel Oliveira.
Escreve o M Sousa Tavares:
E quem é Mário David, um obscuro deputado europeu do PSD, que queria que Saramago renunciasse à nacionalidade portuguesa e que o Governo português fosse declarado inimigo da liberdade de imprensa no Parlamento Europeu, por causa do caso "Jornal de Sexta", da TVI, ao mesmo tempo que não acha que Berlusconi represente qualquer ameaça nesse campo? Bem, esse é o caso mais fácil de resolver: é alguém que quis ganhar notoriedade à custa de Saramago. Passará à história como um Sousa Lara, o que não é propriamente exaltante
Já o que Saramago diz sobre o Antigo Testamento e o Corão é um caso mais sério e, em minha modesta opinião, não pode ser descartado à conta de ignorância ou arrogância. Assim como não pode ser repudiado com o argumento - esse, sim, intolerante - de que está a ofender os crentes. Basta ter andado pelo mundo de olhos abertos e cabeça limpa, para constatar que, como ele diz, as religiões não servem para unir os homens, mas, pelo contrário e demasiadas vezes, para justificarem a intolerância, o ódio ou mesmo a barbárie.
É certo que, com "Caim", Saramago ataca a que hoje é a mais tolerante, a mais democrática e a menos inquisitorial das religiões. Nenhum bispo da Igreja Católica o perseguirá com uma fatwa e nenhum católico fará mais do que insultá-lo nos blogues e redes sociais da net - onde o insulto é fácil, fértil e impune. Não é inócuo, mas, pelo menos, não é perigoso. É também verdade que Saramago se limitou a uma visão literal de um texto datado e inaplicado na prática há muito. É inteiramente legítimo do ponto de vista literário, não sei se será do ponto de vista crítico. Também o Corão, lido à letra, é "um manual de maus costumes" ditado por um deus que diríamos cruel e desumano. A diferença está em que o Corão, na sua interpretação literal, continua hoje a ser o guia e o texto sagrado de grande parte do mundo islâmico, que nele fundamenta o terror e algumas das formas mais iníquas e aberrantes de regulação das sociedades......
...... Continuar a querer ver o catolicismo e a Igreja Católica como a religião do Antigo Testamento e das fogueiras da Inquisição não é um exercício intelectual sério.
Que tudo isto foi também um golpe publicitário de quem é mestre e costumeiro nisso, é evidente. Mas tudo, em José Saramago, é vaidade e autopromoção. A começar pelo comunismo confortável de que ele se apregoa devoto, mas nada praticante. E a continuar com a fábula do seu auto-exílio em Lanzarote, zangado com a pátria por causa do Sousa Lara. Se há alguém que não tem razão alguma de queixa de Portugal é justamente o Nobel Saramago.
Não impede que a persistência de um homem de 86 anos no seu "ateísmo professo", como lhe chamou o padre Stillwell , me mereça respeito e atenção. Sem dúvida que seria um grande momento de reflexão o debate para que Saramago se declarou disponível com representantes da Igreja ou das comunidades judaica e islâmica. Muito mais além do que esta tranquilidade ideológica podre das sociedades massificadas por dogmas e verdades inquestionáveis
De P. a 26 de Outubro de 2009 às 23:21
Escreve o Daniel Oliveira:
No dia 29 de Novembro a Suíça vai referendar a proibição de construção de minaretes em mesquitas. A interdição não se aplica, como é evidente, às torres das igrejas, apesar de uns e outras terem exactamente a mesma função. Este é o desrespeito que não se tolera: quando fiéis, convencidos da sua superioridade religiosa, limitam a liberdade de culto dos restantes. Ou quando uma religião quer fazer das suas leis as leis do Estado e, por isso, de todos nós. Fora isso, a religião, os seus fundamentos e os seus livros merecem tanto respeito como qualquer outra coisa na terra: nem de menos, nem de mais.
Não é, por isso, a falta de respeito que me incomoda nas declarações de Saramago sobre a Bíblia (e nem comento os apelos a que renuncie à nacionalidade portuguesa). Muito menos a mim, ateu de pai e mãe e razoavelmente anticlerical. É o primarismo. Como reduzir um conjunto de textos tão complexo e contraditório a "absurdos" e "disparates"? Como pode um escritor resumir assim aquela que foi a fonte de inspiração de milhares de textos literários (até os dele), composições musicais ou obras de arte? Como se pode falar de um "manual de maus costumes" quando se fala de textos (dos tão diferentes Antigo e Novo Testamento) que contêm em si o pior e o melhor da humanidade, toda a crueldade e generosidade, toda a vingança e perdão? Como pode alguém que escreve sobre a nossa história comum descer ao mais básico dos anacronismos históricos?
O primarismo está a transformar-se num ar do nosso tempo. É ele que faz crescer os fundamentalismos religiosos e as leituras literais da Bíblia e do Corão. E o primarismo atrai primarismo. Cria um manto espesso de intolerância e ignorância, de estupidez e incomunicabilidade. No tempo da frase curta, da declaração bombástica, do escândalo sem sentido da história, o primarismo é mais forte do que qualquer ideia. O que é extraordinário é que seja eu, um colunista da espuma dos dias, a dizê-lo a propósito de um escritor, que tem outro tempo para respirar, que pode ir muito além do espectáculo da polémica fácil.
Recuso-me a ser levado nesta avalancha. Esta avalancha que resume o cristianismo à sua caricatura. Que resume o islamismo à sua violência. Que resume o judaísmo aos avanços e recuos de um Estado. Que resume o ateísmo a uma nova religião científica que esmaga milénios de história. Não, nenhum dos livros das três religiões monoteístas se explica com citações escolhidas ao acaso. E não, não é preciso ser cristão para sentir comoção com o 'Cântico dos Cânticos'. Não é preciso ser crente para perceber que a religião condensa em si as camadas da história de que se faz a humanidade. Que ela tem um tempo e um ritmo que não cabem em conferências de imprensa. Não é preciso ser religioso para compreender esta permanente procura do sentido da vida e da imortalidade.
Eu, ateu convicto desde o dia em que penso, não aceito esta nova moral em que tudo se resume à dimensão do indivíduo. Em que todas as convicções colectivas, todos os ritos humanos, são vistos como manifestações de um obscurantismo acrítico. Não perceber o que de mais profundo e complexo tem a fé humana é não perceber nada da humanidade. E se a um escritor lhe escapa o que de essencial há na sua espécie...
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